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Cesárea e parto natural: vivi os dois! 20/03/2011

Posted by Carol Patrocinio in Blablabla, Ser mãe é....
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Carol Patrocinio - parto natural

Aos 18 anos engravidei. Era um menino. Eu estava apavorada só de pensar em como seria ser mãe. Fiz o pré-natal com um médico ótimo, que cuidou muito bem de mim e me disse que a gente podia tentar o parto normal. Era meu sonho.

Não deu. Já tinha passado da hora e era melhor escolher o dia e fazer a cesárea. Oito de dezembro de 2003. Não tive contrações, a bolsa não estourou. Fiquei deitada esperando o médico que atrasou por causa de um parto normal. Que inveja daquela mulher que conseguiu ter o parto dos meus sonhos.

Horas deitada numa maca, sozinha, pensando em como seria tudo aquilo. Eu nunca tinha feito nenhum cirurgia, não imaginava o que seria e, por ser mãe solteira, não podia ter acompanhante. As mulheres entravam e saiam, seus bebês choravam e eu estava ali, sozinha, esperando.

Horas depois, a anestesia, o corte, a visão pelo reflexo do meu corpo aberto e os médicos conversando sobre quem estava saindo com quem. O anestesista me fazendo perguntas simples e a dificuldade imensa de entender o que eu tinha que falar. Lucca nascendo, o médico comentando sobre seus olhos já estarem abertos – “menino esperto” -, o trazendo pra perto de mim e eu não podendo abraçá-lo. Meus braços abertos, cheios de fios. Um beijo na testa do meu bebê, ele para de chorar e uma lágrima cai dos meus olhos.

Os dias que se seguem são nublados. Recebi visitas, muitos amigos queridos, pessoas que se importavam com a gente e queriam estar por perto. Lembro pouco. Vejo as fotos e tento entender o sentimento que tenho. As lembranças não vem.

Depois de 6 anos Lucca começou a pedir um irmãozinho. A vida tinha mudado e eu agora tinha uma pessoa ao meu lado para criar o Lucca e seguir a vida. A gente pensava que não estava preparado para outra criança, nem sabíamos se a gente queria ter um bebê. Engravidei.

Voltei ao mesmo médico, que continuou sendo meu gineco. “Olha, Carol, depois de uma cesárea é quase impossível ter um parto normal”. Mais um vez meu sonho não ia ser realizado, mas minha melhor amiga tinha se formado em obstetrícia e me indicou alguns médicos.

O convênio não cobria, fui tentando arrumar maneiras até que fiz um plano de parto dizendo tudo o que eu queria – parto natural, sem anestesia, sem remédio nenhum, sem corte desnecessário, amamentar logo após o nascimento, ficar com meu filho no meu quarto – e o médico me respondeu, com toda a sinceridade do mundo, que chegou a doer em mim, que não sabia fazer aquilo.

Mudei de médico aos quase 7 meses de gestação. Deborah Klimke foi ótima e aceitou. Me explicou como seria tudo e deixou claro que, se o bebê corresse risco, mudaria todo o jogo. Topamos. Eu e Eduardo tínhamos certeza de que era aquilo o melhor.

Na sexta-feira perdi o tampão – coisa que só descobri que existia com a Mari, minha obstetriz particular -, no sábado começaram as contrações, mas a dilatação ainda não era suficiente. Fique em casa, ligava pra Mari, oras pra Deborah. No domingo, ainda dirigi, fui ao shopping, almoçamos com meus pais e, de noite, senti que era hora.

Fomos de madrugada para o hospital. No ABC nenhum hospital tinha infra pra receber meu tipo de parto, então fomos para o Santa Joana. Fomos atendidos superbem até explicarmos que seria um parto natural. Não queríamos nenhum instrumento colado na minha barriga, eu queria andar e entrar debaixo do chuveiro. As enfermeiras estavam nervosas com aquilo.

Enquanto Deborah não chegava, pedi que Mari tomasse a frente e não deixasse fazer tudo aquilo comigo, não de novo. Eduardo esteve ao meu lado em todos os momentos – segurou minha mão, minhas costas, colocou gazes úmidas nos meus lábios, já que as enfermeiras não me deixavam tomar água.

O parto foi lindo. Cinco horas de dor, mas aquela dor que te faz ser melhor, te faz crescer. Nascer não é fácil, nem para o bebê, nem para a mãe. Não precisa ser fácil. Cinco horas em que entendi quem era aquele menininho nascendo, quem era Eduardo, que eu escolhi pra dividir a vida e quem era Mari, minha melhor amiga que sabia como ninguém do que eu precisava a cada segundo.

Pensei em desistir, tentei convencer Deborah a me dar remédios e fazer uma cesárea. É claro, não sou louca. Mas eu, boca suja, não disse nenhum palavrão, não xinguei nem praguejei – e quem me conhece sabe como isso é raro no meu dia a dia. Dizem que fui pra partolândia. Entrei em transe. Lembro de tudo. De cada momento, cada palavra, cada pontada de dor.

Lembro do Chico pequenininho, no meu colo, sendo abraçado. A primeira mamada sem dificuldade nenhuma. Ele sabia o caminho e eu só precisava ajudar. As diversas enfermeiras no quarto, que tinham pedido para assistir ao parto, com sorriso no rosto. O cansaço após o nascimento. O sono.

Quando acordei, comi – almoço normal, igual de quem fez qualquer cirurgia besta -, levantei e fui fazer xixi. No banheiro. Sem comadre nem essas coisas de hospital. Ao ser levada para o quarto as enfermeiras corriam pra perto da maca, perguntavam como eu me sentia e diziam que tinha sido lindo.

Virei a rock star da maternidade. Não devia ser assim. Todas as mulheres deviam ter direito de lembrar de seus partos. É claro que, quem quiser, deve poder marcar sua cesárea, sabendo direitinho todo o mal que está fazendo ao bebê.

As horas seguintes e os dias que vieram estão intactos na minha memória. O Lucca ansioso para conhecer o irmão. Nossas famílias presentes o tempo todo, querendo ficar perto dos meninos. Cada fralda, cada choro, cada pequena mudança. Tudo isso ainda está dentro de mim.

E agora, ao escrever tudo isso, notei que, sem o Curso de Obstetrícia da USP, Mari nunca teria me ajudado a ver que eu podia, sim, realizar meu sonho. Querem acabar com o curso porque médicos não aceitam que existe algo melhor para as mulheres do que aquilo que eles oferecem. Vaidades. A direção da universidade não quer polêmicas. Mas a verdade é que nós não podemos deixar que isso aconteça.

Quero que cada vez mais mulheres tenham lembranças lindas do momento em que seus filhos chegam ao mundo. Quero que mulheres possam escolher. Quero ser respeitada. Quero que todas as mulheres vivam o que eu vivi. Quero que o curso de obstetrícia viva. E espero que você, que leu até aqui, me ajude. Assine o abaixo-assinado e venha fazer parte dessa luta.